Mortes silenciosas, governo omisso.
Retomo os problemas vividos pelos moradores do
Hospital Psiquiátrico São Pedro, porque o Governo de nosso Estado , passados 07
meses de minha exoneração do cargo de Diretor geral daquela instituição, mantêm
sua postura de omissão e desrespeito com os Direitos Humanos mais elementares.
Em 12 de agosto de 2011, motivado pelas constantes
negativas do governo em melhorar as condições em que vivem aqueles pacientes,
solicitei minha saída da direção do hospital. Na época, ingressei com uma
Representação junto ao Ministério Público Estadual, solicitando que o mesmo
interviesse, constrangendo o governo a tomar as atitudes necessárias para
resolver os problemas básico que denunciei .
Passados sete meses, não tendo o governo tomado
nenhuma atitude, chego a conclusão que, infelizmente, o que fiz, foi muito
pouco.
Nesse período, morreram 24 pacientes, - uma média
de 04 por mês -, agravando a situação anterior.
Há poucos dias atrás, em um programa da TVCOM, a
Coordenadora do Departamento de Atenção à Saúde (DAS), declarou que “a
Secretaria da Saúde do Estado vai proceder os trâmites necessários para licitar
as reformas necessárias no Hospital”. É inacreditável. Numa situação como essa,
onde os pacientes (homens e mulheres, idosos em sua maioria), morrem por doenças
evitáveis, isto é, morrem por negligência do gestor público, por ausência de
cuidados, ou por ausência de assistência médica, o órgão público, por mais
desastroso que seja, pode, sem risco algum, dispensar o processo licitatório e
contratar os serviços necessários em regime de urgência.
Não é possível ficar em silêncio, assistindo a essa
situação grotesca, onde cidadãos, sob a guarda do Estado morrem por doenças respiratórias, evitáveis, e o
Governo, demonstrando a mais absoluta insensibilidade, se faz de cego, surdo e
mudo. Com o agravante da ocupação das áreas mais confortáveis e seguras do
hospital, por cargos comissionados administrativos.
Custo a crer que os altos escalões do Estado tenham
ciência disso. E que os quadros de direção central da Secretaria da Saúde do
Estado, compactuem com uma situação de evidente desrespeito com a vida humana,
em nome de uma “política” ditada pela Reforma Psiquiátrica, de esvaziamento dos
hospitais psiquiátricos. Esvaziar, criando formas substitutivas como os
Residenciais Terapêuticos e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), está
correto. Agora, esvaziar os manicômios, ao custo da aceleração dos óbitos, da
negligência e da omissão com os cuidados elementares que os doente mentais
necessitam, não. Constituí-se em um profundo
desrespeito com a vida humana.
Medidas legais ou uma nova Representação junto ao
Ministério Público Estadual, ou ambas, urgem, para obrigar o Estado a assumir
suas responsabilidades elementares. É o que faremos.
Lucio Barcelos - Médico Sanitarista
Abril de 2012
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